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DQC 25 - Uma Ode à Alegria

DQC 25 - Uma Ode à Alegria

Released Sunday, 17th February 2019
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APONTAMENTO DE UM ESCRITOR LATINO AMERICANO SOBRE TUDO AQUILO QUE VEM ACONTECENDO COM ELE E COM VOCÊ.SIDNEY ROCHA Quando você estiver sozinho, realmente sozinho Quando suas pernas fraquejarem e no seu peito reinar o hálito de todas as mortes precocesQuando a porta do seu quarto desconhecer a extensão do corredor e da sala e descambar no precipício do assoalho vazio  Quando seus amigos (claro, os seus amigos de algum diaque não mais os de hoje) permanecerem todos lá na lonjura da ponte sem esperar mais nada de você, senão uma saída que os convença Quando na sua carteira a identidade for só um papel gasto onde um rosto jovem adormece Quando você não tiver dinheiro nem paz nem força e achar que essas duas últimas grandezasjamais poderão existir sem a primeira Quando o seu corpo parecer infinitoEm dor em agonia em desespero em... Quando tudo aquilo para o qual lhe preveniram realmente aconteceu e você sentir um medo pavoroso do que lhe está prestes a vir Quando você urrar até a vertigem E se ver completamente cegoDe dor de agonia e de desespero de... Quando acabarem os cigarros, o crédito nas bodegas do bairroE também quando não existir uma vivalma que lhe pague um trago Até mesmo da bebida que você mais odeiaE quando pra piorar as coisas (porque isto sempre possível: as coisas piorarem)Você estiver sido pecado pelo escorpião da literaturaE sentir que, com o tempo, está inchando até explodir Quando a sua máquina lhe parecer uma desconhecidaE lhe olhar de uma altura de mil pés por sobre suas teclas duras e o carretel de fita mil vezesRebobinado a mão por você próprio Quando o último livro parecer ser de um outro autor Quando você desejar profundamente ser uma pessoa comum Quando você já não se reconhecerTransando, amando, fumandoSua dor sua agonia seu desespero seu... Quando sua vontade for pedir piedade ao mundo ou querer que lhe sacrifiquemMas que lhe deixem definitivamente em paz Quando você não souber fazer contas com mais de duas parcelasNem a sua língua servir para dizer o que realmente você sente Quando você se sentir ultrajado, incompreendido, enganado, roubado, vigiado, perdido...Sozinho, realmente sozinhoE não souber mais a diferença Quando você sentir vontade de chorar e não fazê-lo porque já conheceAonde o seu choro não vai dar Quando não houver nada, simplesmente nadaNada nada nada nadaEsteja pronto! Recolha o que puderAquilo que estiver a mãoAgarre tudo sem hesitações maiores (as coisas que lhe fugirem dos dedos ficarão ali para sempre é preciso aceitar isso) Roube de si mesmo tudo o que puder e couber do vazio no qual você mergulhouNão espere nada mais, nenhum segundo mais sob o risco de explodir com o que ficou nas gavetas do você ideal Siga como puder, mais sem cobranças Faça de contas que você se matou ou que é dois - isso também ajudaE que, sendo assim, não se dê à burrice de cair duplamente nas fossas(Da sua dor da sua agonia do seu desespero do seu...)De onde só poderá sair um vivo e lute muito para que seja você E não se entregue jamais ao seu choro ou ao seu apelo Descubra que sendo dois um de vocês quer lhe levar à loucuraÀ dor à agonia ao desespero ao... Note que isso é só uma guerra pessoal e – por favor - não peça piedade(Perdoe somente algumas vezes) Escreva - isso complica maisMas - pode acreditarNo final terá sido necessário Redescubra a força das palavras quando untadas de verdadeCom sua dor com sua agonia seu desespero seu... Tira lasca de fogo delas Aproveite delas a força natural que todas as coisas têm e si dirigem ao centro da terra Escreva sem perseguições com nadaEscreva como se música tocasse dentro de vocêEscreva como se você dançasse Como se fosse gago e estivesse nervoso e quisesse anunciar um desastreE, caso tropece muito nas palavras uma multidão inteira pudesse morrer(E você não quer isso, nós sabemos) Escreva como se dependesse disso as pedras os rios os mares a caatingaO vale os bichos os céus os mudos os surdos os inaptos de toda natureza Atire-se da altura dos adjetivos e como alguém realmente iradoNão procure a palavra exataMelhor: encontrando-a, deixe lá,Não acredite nelaNunca creia em miragens A palavra exata é um embusteÉ como a mulher idealO emprego idealO amigo idealEstas coisas não existem, meu amigo Sua dor é que existeSua dor sua agonia seu desespero seu... Lide com issoNunca esqueça Quando você estiver sóSozinho realmenteRetire o seu caminho da sua dorDa sua agonia a vontade de continuarDo se desespero algo que possaValer para a humanidade inteira Não conseguindo meu irmão continue escrevendo(Escrever é pura continuaçãodo homem a partir dos dedos)Continue vivo ou faça qualquer coisa que lhe dê a mínima sensaçãoDe que você continua continuando.

https://www.desculpadqc.com.br/dqc-25-carta-aos-deprimidos

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