Em meu primeiro EP trago uma busca por expressão dentro de minhas pesquisas afro-rítmicas somada à instabilidade de um mundo virtual pandêmico e de um Brasil consolidado, de maneira impressionante, numa mediocridade política assustadora. Quando pensávamos em ambições em brasas-fâmulos-vermelhos-verdes-e-amarelos nos deparamos com os ventos da sem-gracice que roubaram o carnaval, a vida em coletivo, os empurrões molhados que encharcam os pés que pisam na poça de cerveja e estouram o ouvido em frente ao subwoofer rasgado.

Não sei exatamente como compor minha presença com essa realidade pandêmica, com essas lideranças sem tesão e emoções apaixonadas por um devir intelectual curioso. Acho instigante construir sons com meu corpo de hoje, um corpo em exílio, com saudades, latente de passados e ansioso por uma pedra robusta e psicodélica no meio do caminho. "tá foda essa bocada", o tal do queridíssmo EP, é sobre todos esses paradoxos de espera e presente que vivemos hoje, é sobre lesbianidades, sobre negritudes, sobre tudo isso esparramado num invólucro rarefeito de música eletrônica para uma pista de dança mascarada de esperanças e um pouco de sufocamento e dúvidas e novas dúvidas com sabor de chocolate esfarelado, vencido.

Com o coração carente mas sempre pujante, compartilho com vocês a playlist, com algumas referências e sons que tem me alegrado, e o EP que pari entre terremotos.

Carinho,
Marta Supernova