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Em livro saudado pela crítica nos EUA, jovem escritor leva leitor americano ao universo brasileiro

Em livro saudado pela crítica nos EUA, jovem escritor leva leitor americano ao universo brasileiro

Released Saturday, 9th March 2024
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Jovem filho de mãe brasileira e pai americano, Harold Rogers conta em Tropicália sua experiência de crescer na ponte aérea entre os Estados Unidos e o Brasil.

Luciana Rosa, correspondente da RFI Brasil em Nova York

Para Harold Rogers, a experiência de escrever é uma batalha diária, um trabalho que exige sangue, suor e lágrimas. Em seu livro de estreia, Tropicália (ATRIA, 2023), o jovem instrutor de boxe cria um mundo ficcional carregado de mistério e intriga que tem Copacabana como cenário e o mix de culturas como tempero.

“Original e altamente envolvente”, foram os adjetivos escolhidos pelo Good Morning America, da emissora ABC para descrever a obra.

O jornal The Washington Post ressaltou o talento de Rogers para trabalhar com um conjunto de diferentes vozes e fazê-las se sobressair ao ruído da cidade, fazendo o leitor se perguntar sobre a capacidade real do ser humano de reparar os danos causados àqueles que amamos.  

Nascido em Ohio, de pai americano e mãe brasileira, Rogers tem dupla cidadania e passou a infância entre as ondas da Baía de Guanabara e a pacata vida de Steubenville, cidade americana onde nasceu e cresceu.

O autor recebeu a RFI na academia de boxe onde ele trabalha em Nova York para uma conversa sobre o livro que acaba de ser traduzido para o francês, publicado pela editora Calmann-Lévy, e está disponível nas livrarias da França desde 6 de março.

Entre letras e ringues

A cidade de Nova York é um desses lugares do mundo em que cada um pode ser o que quiser, destino dos mais diversos perfis, onde o que é considerado normal muitas vezes é ser o mais estranho. Ter uma dupla identidade, como nos filmes de super-heróis, é algo quase esperado dos habitantes desta Gothan City.

Por isso, descer aos subsolos de uma  academia de boxe em Tribeca para encontrar não um pugilista, mas uma promessa da literatura é algo que nem chega a ser pitoresco. 

Harold Rogers nos conta como, com seu primeiro livro, vem nocauteando crítica e público, com sua escrita fresca e cadenciada como somente as belas canções da MPB sabem ser. 

É bastante curioso porque são contextos completamente diferentes: ora, estar sentado escrevendo em um ambiente tranquilo, ora descer para o treinamento. Rogers responde que, para ele, é o balanço perfeito.

"Escrever é algo que faz você ficar muito na sua própria cabeça, sozinho com seus pensamentos. Na academia, eu convivo com as pessoas, falo com as pessoas e eu estou mais focado no meu corpo, não tanto na minha cabeça. É bom ter esse balanço", diz.

A relação com o boxe começou quando ele vivia no Brasil, aos 12 anos de idade e começou a lutar na academia que ficava em frente ao seu edifício onde morava, em Copacabana. Ele conta que "estava sofrendo bullying na escola porque era uma criança gordinha".

"O boxe foi o jeito que eu encontrei de ganhar mais autoconfiança, ter coragem", relembra. Hoje, usa o esporte como meio de sustento.

E como ele relaciona o boxe com o processo de escrita? "Realmente é um processo. [risos] Eu acho que reescrevi o meu livro inteiro umas dez vezes, do começo ao fim", conta.

"Quando você começa um livro, você acha que vai escrever uma vez e vai ser um hit, um sucesso enorme. Mas aí você escreve algo, não gosta, escreve aquilo e não tá certo e você vai aprendendo, vai conhecendo melhor o seu próprio trabalho. Com o boxe é assim também", explica. "Você tem que falhar, tem que levar soco na cara. Você sangra, exatamente como você sangra para finalizar um livro", compara.

A mudança para Nova York

Rogers conta que veio para Nova York para fazer um mestrado em Belas Artes na Universidade de Columbia, que acabou financiando a publicação de Tropicália.

"Minha irmã gêmea, que também é uma instrutora de boxe, começou a trabalhar aqui [Church Street Boxing] e me arranjou este emprego", conta.

Mas o livro nasceu ainda antes da mudança, durante a pandemia, quando Rogers diz ter ficado "exilado do Brasil porque não podia viajar".

"Foi um processo terapêutico. Durante a pandemia meu avô morreu, meu tio morreu, e eu não pude ir para nenhum dos enterros. Eu estava pensando muito sobre o Rio de Janeiro e escrever esse livro foi uma forma de morar no Rio enquanto eu estava preso em Ohio."

O livro que traz muitas expressões da língua portuguesa e, assim, desafia o leitor americano, pouco familiarizado com o idioma.

"Muitos escritores americanos convivem com o mundo latino-americano e escrevem em inglês e espanhol. Mas não muitos usam o português. Eu encontrei uma oportunidade de incorporar o idioma neste livro", aponta. "Como ele é escrito em inglês sobre o Brasil, eu achei muito importante poder ter português nele", ressalta. 

Tropicália, um misterioso conflito familiar

Rogers conta que a família do Tropicália se parece um pouco com sua  própria família: Daniel, um jovem da sua idade (26 anos), tem uma irmã e avós muito presentes na sua vida, e um pai americano ausente – uma diferença em relação à sua vivência pessoal. 

"Eu acho que quando eu escrevi esse livro, eu estava pensando em como seria ter um pai ausente. Como teria sido a nossa vida se ele tivesse deixado a minha mãe no Brasil sem nenhum recurso?", conjectura.

Um dos pontos altos da escrita de Rogers é sua capacidade de ter empatia com seus personagens, a ponto de poder transmitir variadas perspectivas em primeira pessoa.

"É uma coisa muito divertida! Difícil, mas divertida. Chegar na perspectiva do Daniel foi fácil porque ele é a pessoa mais parecida comigo. Já dar voz à Lúcia ou à avó Marta foi outra história, porque eu tive que pensar como é ser essa pessoa que eu não sou", comenta.

A ficção da experiência vivida

A RFI pergunta a Rogers o porquê da decisão de resgatar o vínculo entre os Estados Unidos e o Brasil. 

"Acredito que somente focando na sua experiência específica você consegue chegar em temas universais. Você tem que focar no seu mundo interior", enfatiza.

Utilizando o conceito de multicultural do movimento tropicalista, o autor nomeia o seu romance e, ao se apropriar de um termo amplamente conhecido e associado ao Brasil, ele pretende não deixar nenhuma dúvida sobre as origens de quem é ou do que escreve.

"A Tropicália é um movimento que incorpora várias influências de fora do Brasil para criar uma coisa brasileiríssima. E o livro é exatamente sobre isso, porque eu sou metade americano, estudei nos Estados Unidos, eu tenho muita influência americana. Mas, eu queria criar alguma coisa com essas influências que fosse algo genuinamente brasileiro." 

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