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12.04.2021 Interessa-me particularmente o atelier (parte um)

12.04.2021 Interessa-me particularmente o atelier (parte um)

Released Wednesday, 14th April 2021
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I

No Domingo passado, o Manuel Graça Dias faria 68 anos. Na noite de 25 de Março de 2019 – num tempo em que ainda não pulicava - após saber da sua morte, não consegui dormir e escrevi isto:
“Independentemente da veracidade da minha memória, habituei-me a atribuir a minha chegada à arquitectura a uns certos programas de Televisão dos anos 90, onde um tipo, um arquitecto, realizava uma deriva poética pelas ruas - aquilo que mais tarde nomeei como: comentário crítico à cidade.
A TV, principalmente a RTP2, funcionava na altura, como agora, como um filtro cultural para - usamos novamente a ideia do comentário -
comentar o mundo, perceber o mundo; apresentou-me um de projeto de vida baseada na tal ideia de deriva na cidade, habitada por coisas (principalmente) como desenhos, livros ou quadros, objectos que certamente faziam parte de uma ideia de atelier, aquele espaço-seguro de pensamento onde se regressa.
Esse atelier, ainda antes do curso, e portanto ainda antes da arquitectura, foi sobretudo entendido precocemente como um espaço de pensamento mais do que um espaço de projecto - lembro-me agora que o espaço de atelier, dos programas de TV era provavelmente o espaço do Portas, do Teotónio e do Bartolomeu, que o Filipe Oliveira me mostrou algures em 2015, e que era agora o seu atelier, no meio dos papéis e dos estiradores Olaio - a poética do atelier do Bartolomeu Costa Cabral, era em 2015 a mesma dos anos 90.
A memória é etérea e difusa. Não consigo garantir, mais do que por vontade, que era o Graça Dias que subia as escadas daquele prédio lisboeta (consta que para o atelier dele e do Egas se desce) – mas atribuo-lhe a minha chegada à arquitectura”.

II

Interessa-me particularmente esta ideia do atelier enquanto “espaço de pensamento mais do que um espaço de projecto”. É certamente um interesse por demissão. Aos 36 ainda não consegui projectar-me um atelier de projecto. Estes espaços fragmentados onde me movo: um apartamento, duas lojas, uma cave destruturada ao estilo arquivo-funcional e um site (aos quais acrescento a cidade) são lugares competentes para se modelar um atelier de pensamento, mas não um atelier de projecto. Será ainda cedo para o cumprir?

III

Qual é a idade certa para um arquitecto começar a ser arquitecto? Não me lembro de ter ouvido a resposta nos programas do Graça Dias dos anos noventa. Bem, convenhamos: eu já tenho duas obras, ou ainda, eu só tenho duas obras. O Kahn começou aos quarenta. Ainda há tempo! Ainda o apanhamos! E tivemos sempre direito a virtuosas desculpas: a crise dos subprimes, a globalização, a falta de gosto generalizada e agora a peste. Quando a peste acabar. Ai quando a peste acabar, não falto a uma festa! Ai não que não falto – está-se tão bem em casa. Para um introvertido “sair da escrita para o mundo civil é de um encantador aborrecimento”. A Sílvia que vá e nos encontre clientes, abusando desta técnica milenar da conversa entre copos. Precisamos tanto que regressem os estereótipos do anos noventa!

IV

O Manuel Graça Dias, ao contrário de mim, era sedutor, desconcertante e excêntrico.  Caro Manuel, bem sei que deveria encontrar outras referências, mais em conta com o meu chame discreto, mas a bem da verdade, ou melhor, a bem da memória, acho que prefiro mudar de temperamento do que o ídolo. Vamos a isso?

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