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SAÚDE CRÔNICA: Uma palavra sobre a saudade

SAÚDE CRÔNICA: Uma palavra sobre a saudade

Released Monday, 9th March 2020
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Saudade. Uma palavra com um significado tão vasto ao mesmo tempo que muito complexo. Podemos nos expressar usando a saudade para falar de sensações facilmente tangíveis como, por exemplo, o abraço de uma pessoa querida. Da mesma forma, é possível sentir saudades de situações imateriais - ou mesmo etéreas – como uma lembrança nostálgica: um instante de troca de olhares com a pessoa amada; o som do primeiro choro de um filho; ou pela simples caminhada durante um dia bonito.

Saudade é uma das palavras mais usadas na poesia em língua portuguesa. Talvez seja por quase toda poesia emanar um pouco de melancolia, ou pela própria origem da palavra, que é derivada do latim solitatem - que significa solidão. Clarice Lispector escreveu uma vez que esse é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida. “Saudade é um pouco como fome, só passa quando se come a presença”.

Mas, talvez, daí venha a grande inquietação desse sentimento: muitas vezes só podemos desejar. É a esperança de que, no futuro, seja possível retomar a felicidade de um momento específico. Por isso, saudade vem carregada pela lembrança de algo que já passou e talvez nunca mais aconteça novamente. Mas ela pode vir, também, pelo receio repentino da demora e rever, de passar tempo demais longe. E foi tomado pela compreensão desse sentimento, que resolvi escrever. Entendi sobre essa saudade emergente ao ouvir meus filhos, ou melhor, redescobri, pois, um dia senti a mesma sensação, mas que agora estava esquecida lá no fundo da memória.

Eram oito horas da manhã de uma quinta-feira, em frente ao portão da escolinha do Ravi, meu filho mais novo que está com quatro anos. Ele tinha parado, dizendo que não queria entrar. Deu inúmeras desculpas: de que a professora era malvada, de que iria se comportar mais, depois de que estava com dor de barriga e, por fim, de que não precisava aprender mais nada. Deixei que falasse tudo. Quando o pequeno terminou, seus olhos estavam marejados e a boquinha tremia em pequenos espasmos. Eu o abracei e pedi que me contasse a verdade. Foi nesse instante que seus olhos, semicerrados, encontraram os meus e as lágrimas começaram a escorrer. Me encarando ele falou: papai, eu não quero ir porque vou ficar com muita saudade de você, eu amo você.

Meus movimentos congelaram, sem que eu pudesse fazer nada além de confortar meu filho dizendo que tudo ficaria bem e nos veríamos no final do dia. Ele entendeu, apesar de não se conformar, e entrou na escola. Lembrei que o meu filho mais velho, o Arthur, era mais complicado. Ele pedia para não o deixar, enquanto me agarrava chorando desesperadamente. E resgatando mais fundo, lembro de como foi difícil para mim um dia. Eu olhava para as paredes amarelo claro da escola e um pátio de piso marrom que abrigava muitas crianças e alguns adultos, enquanto eu só queria ficar com meus pais. Era praticamente um sentimento de terror, de solidão.

E foi por isso que comecei a refletir e ler sobre a saudade. Reli algumas reportagens que escrevi a respeito e encontrei uma anotação em meio a entrevistas com psicólogos, de que o alheamento, isso quer dizer, esse sentimento de abandono ou afastamento físico que nos separa de quem amamos, pode causar efeitos psicológicos que reverberam pelo organismo e, assim, acabam por desencadear reações que passam pela angústia, medo, desconforto e até tristeza profunda. Em casos mais complexos existe a possibilidade do desenvolvimento depressão.

Sejamos então mais compreensivos uns com os outros, cuidemos dos sentimentos de quem nós amamos, mas não só. E que possamos fazer como ensinou o escritor francês Antoine de Saint-Exupéry: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

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